Pedra de Metal

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PEDRAGULHO - OMITIR "Cotard"


OMITIR é um projecto a solo de Joel Fausto, surgido nos inícios do segundo milénio. Uma “arquitectura” sonora composta por black-metal, jazz e ambiental. Joel Fausto, primordialmente instruído no jazz e na música ambiental, decide embarcar para uma aventura desconhecida e diferente. Pegou nestes dois estilos e mergulho-os no lado mais obscuro do metal, criando assim um registo bastante próprio, ou seja, o seu black metal, fora as ambiências e as passagens de saxofone e piano, acaba por ter ritmos, quer seja de guitarra ou de bateria, fora dos canones habituais deste estilo. O seu último trabalho, assinado por duas editoras (a norte americana The Pathless Traveled Records e a germânica Amor Fati Productions)é um completo livro sobre os limites da mente humana, do seu isolamento.

“Cotard” é um álbum totalmente cantado em português, um protozoário psíquico que invade o cérebro humano subtilmente e se propaga por todo ele. Muito “apropriado” não só para os apreciadores de black metal experimental, mas em simultâneo para quem já viu o filme “Eraserhead”, realizado por David Lynch. A simbiose entre as duas obras é perfeita e não é por acaso que existem excertos do próprio filme no álbum. Em especial no tema “Poço” e um pouco por todo o álbum, a parte ambiental muito ao estilo de Angelo Badalamentti, compositor e responsável por criar músicas e ambiências quase todos os filmes do David Lynch, como “Estrada Perdida”, “Veludo Azul” e também para a série “Twin Peaks” entre outras. Apesar de ser maioritariamente suja e distorcida, em “Belle Diference” a voz de Joel Fausto metamorfoseia-se e toma uma tonalidade muito similar à de Chris Isaac, mas quase em ritmos de fado. Momentos de jazz belos e “decadentes”, piano (em “Perda”); saxofone (em “Foco Abrupto”) são uma peça chave para que “Cotard” seja um trabalho autêntico e distinto.

Joel Fausto revela-se um verdadeiro discípulo de David Lynch e um disciplinado seguidor da escola de Angelo Badalamentti, os ambientes profundos para onde nos transporta são fruto disso e do talento majestoso deste excelente músico. E tal como na obra de David Lynch, a complexidade de OMITIR, obriga a sermos nós próprios a tomar como desafio de descobrir a sua essência e tentar compreende-la.


Partes do filme "Eraserhead" onde foram retirados alguns samples para o álbum:

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