Pedra de Metal

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ENTREVISTA - Karuniiru


E se eu vos dissesse que existe uma banda portuguesa que canta em japonês? Pois podem acreditar que é verdade. Os Karuniiru são uma banda oriunda da margem sul de Lisboa, de j.rock/metal, com um visual muito próprio e virada para a arte de palco, algo muito diferente do que estamos habituados a conhecer. Contam com mais trabalho que foi lançado este ano, o EP “Junkie Lollita”. O “Mr. Showman” Domino Pawo(vocalista, lider e mentor), falou-nos da sua admiração pela arte japonesa, da sua revista de cultura alternativa e muito mais!

Pedra de Metal – Para matares a curiosidade de todos, diz-nos qual o significado da palavra “Karuniiru”?
Domino -
O nome original da banda é Carnille que é um anglicismo do élfico Tengwesta ou do Kwenyava, chamado de Qenya e a palavra é Karne (vermelho), porque Karnil é o Planeta Marte...Carnille, ou Carnil, mas a palavra pura é Karnil, o símbolo da força dos elfos! Em 2009 Carnille passou a chamar-se Karuniiru, que é a tradução possível de como os Japoneses dirão Carnille.De nome tem na sua essência: Encarnado, Marte, Luta, Preserverança, Força. Basicamente Karuniiru tem na sua essência de criação a junção élfica e japonesa.

P.M. – Sei que este projecto esteve, praticamente, estagnado durante uma época. Pensaste que nunca mais iriam voltar ao activo?
Domino -
Admito que por um momento ou outro isso me tivesse passado pela cabeça. Mas no fundo, como Karuniiru se apresenta como um estado de arte constante, em que interessa um conjunto de vertentes artísticas e não apenas a música em si, é quase impossível acabar, independentemente dos músicos que por lá passam. No activo sempre esteve, a diferença é ter ou não músicos que queiram acompanhar o projecto ao vivo.

P.M. – Vocês têm se tornado conhecidos e acarinhados, pelo público que vos acompanha, devido à qualidade das vossas actuações. O que existe de tão especial nos concertos que dão?
Domino -
Somos nós próprios, assumimos o nosso papel como entertainers de um público que quer uma mensagem, numa música com substância e energia, e ao mesmo tempo passarem bons momentos. Se calhar por todos darmos o nosso máximo, termos uma atenção muito especial com o público, sabermos qual é o nosso lugar, e enviar mensagens visuais e faladas corrosivas, tornem os nossos espectáculos únicos.

P.M. – Tu és uma pessoa muito ligada às artes como formação universitária, és músico, produtor e também elaboras os requintados cartazes dos vossos espectáculos. O teatro será um condimento a aprimorar?
Domino -
Sem dúvida, e cada vez mais. O teatro é um pilar de peso nas minhas actuações, e só não vou mais longe porque não me é permitido. Música e teatro para mim e em palco são como um todo. Já fazer teatro numa peça ou companhia, é um dos outros sonhos ainda presentes.


P.M. – A revista online sobre cultura alternativa, “Sweet Dreams Magazine”, é um outro projecto teu, ao qual temos contribuído para a sua divulgção. Conta-nos como está a correr e quais os seus horizontes.
Domino –
A Sweet Dreams Magazine nasceu com a intenção clara de dar uma ajuda a toda a cena undergound portuguesa, mesmo a todos aqueles que nunca sonharem terem uma oportunidade de divulgarem o seu trabalho. Esse é o principal objectivo, que tem vindo a ser cumprido, por isso tenho a percepção que esteja a correr bem. No horizonte está a continuação e melhoramento em alguns artigos e periodicidade, que é um calcanhar de Aquiles para pessoas que tem muitos projectos na calha. A curto prazo surgirá uma Sweet Dreams em duas línguas, de maneira a conseguir um maior raio de divulgação da arte feita em Portugal. A intenção é mostrar ao mundo o que o mundo desconhece por completo do nosso país.

P.M. – O vosso segundo trabalho, “Junkie Lollita”, ultrapassou o vosso lançamento anterior. Está mais bem pensado e aperfeiçoado, mas com o formato EP. Porquê?
Domino - O Junkie Lollita está com formato Ep, porque a altura de se fazer um CD ainda não tinha chegado. Não estou interessado em fazer um álbum, só para poder mostrar a toda a gente que temos um álbum. Quando a altura certa chegar editaremos um álbum. E actualmente interessa mais dar bons concertos que ter um album na mão. O álbum é só um instrumento de divulgação e um artefacto de coleção e algum orgulho para as bandas, deixou de ser aquele bem precioso e raro que só encontravas nas lojas. Nos dias de hoje lanças um álbum e 24 horas depois já está a circular livremente na Internet. Deixou de ser apetecivel às editoras e posteriomente às bandas gastarem rios de dinheiro sem depois terem retorno nenhum do dinheiro investido.

P.M. – A indústria discográfica japonesa continua fora do vosso alcance?
Domino -
Por enquanto completamente fora do alcance. A malta em Portugal tem de meter os pés na terra e perceber que o mercado aqui é terceiro mundista, porque as mentalidades ainda são completamente terceiro mundistas, e se queremos estar em mercados altamente competitivos como é o caso do Japão, então primeiro que tudo temos que defender o nosso produto mas com uma mentalidade mundialista, e não com a mentalidade derrotista e do “deixa-andar-que-amanhã-logo-se-vê” portuguesa. O mercado musical é igual em todo o mundo, é feito de bandas, produtoras e público. Por isso acho que é possível qualquer banda chegar onde quer. Mas quando no nosso país o público não vai a festivais de concertos de 6 bandas portuguesas por 3 euros, por acharem que não vai valer a pena, quando as produtoras de eventos se choram e pagam uma mini e uma sandes de presunto às bandas e quando as próprias bandas acham muito bem as coisas serem assim e ficarem felizes porque vão tocar por tuta e meia ao bar do zé da esquina e a seguir apanharem todos uma bebedeira com cerveja barata e se calhar até paparem umas gajas que só não comem mais carne porque em excesso até faz mal à saúde...isso significa que não tens mercado, e nem estás a defender o teu produto, e ao não estares a defender o teu produto, tás a passar para fora a ideia de que todos funcionam assim e de que as bandas não são dignas de terem melhors condições. E ao fazeres isso tás a pôr em cheque o futuro de todas as bandas que tentam desesperadamente ir tocar a outros países...e isto tudo é triste, porque existem bandas de elevado nível em Portugal, e 98% delas nunca irão sair do distrito a que pertencem. E enquanto isto persistir, será altamente inviável a qualquer banda portuguesa, em Portugal sonhar sequer ir tocar sequer a França, que nem é assim tão longe daqui. A não ser que a malta esteja cheia de dinheiro e não se importe de investir do próprio bolso.

P.M. – Em Portugal já tocaram ao vivo com bandas nipónicas, como correu a experiência? E elas gostaram da nossa cultura?
Domino -
Os Japoneses ainda sentem uma atracção por Portugal, devido ao que fomos no passado. Desse passado ficou sempre aquela curiosidade de tentarem saber como é que vive um povo de um país tão pequeno, com tão pouca gente e que conseguiu chegar ao Japão à 500 anos atrás. Os japoneses são um povo que tem honra em protegerem e divulgarem a sua cultura, mas ao mesmo tempo tem a facilidade de assimilarem tudo o que vem do resto do mundo e eles assimilam tudo, tudo o que acham que seja positivo para eles próprios. Portanto eles gostam tanto da nossa cultura, como gostam da cultura norueguesa, mexicana ou indiana. A experiência foi muito boa, mas são nessas alturas que vemos que as bandas portuguesas tem tanta qualidade como as de fora...mas vivem em mundos e mercados muito, mas mesmo muito diferentes...onde os meios são meio caminho andado para as bandas subirem...e são esses meios que as bandas portuguesas não tem e que muitas nem sequer sonham sequer existir.

P.M. – Qual dos períodos da história do Japão te fascinou mais, o feudalismo sangrento do período Edo ou o revolucionário período Meiji?
Domino -
Sangue e revolução...são ambas fascinantes. Não conheço ao pormenor os períodos, mas ambos foram periodos importantes. Se tiver que decidir por um, opto pelo período Edo. Embora tenham havido muitas restrições a tudo o que era estrangeiro, penso que foi a época em que se fez mais no Japão, em todas as áreas.

P.M. – Que figuras, nas mais diversas áreas da arte japonesa, tens como eleição?
Domino -
Na música gosto bastante do Tatsurou, vocalista de Mucc, Kyo dos Dir en grey. No cinema gosto bastante do Shinya Tsukamoto. Na fotografia o Araki. Tem admiráveis pintores, mas não me recordo de nenhum nome em especial. No design, são mestres, destaco Naoto Fukasawa. Artisticamente o Japão está repleto de grandes exemplos, demasiados para se ter apenas um ou dois em cada área.

P.M. – Queria agora te pedir para nos deixares uma mensagem para os nossos incansáveis e estimados leitores.
Domino -
Continuem a acompanhar o Pedra de Metal. É um bom exemplo de preserverança e luta por uma cultura mais activa em Portugal. Lutem pelos vossos sonhos todos os dias, vivam a vossa vida e não as vidas dos outros. Paz.

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