Pedra de Metal

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ENTREVISTA - Corpus Christii


Corpus Christii, nome que já dificilmente passa despercebido a muitos apreciadores de black metal, principalmente pelo seu curriculum discográfico e das digressões por vários pontos da Europa. Mais uma vez nos surpreendem e cimentam o seu prestígio com a nova obra, “Luciferian Frequencies”. O multi-instrumentista e criador, Nocturnus Horrendus, em resposta à entrevista, dá-nos a correcta definição de fidelidade aos seus princípios...

Pedra de Metal – A título de curiosidade, para compores este álbum, repetiste a mesma proeza como em “Torment Belief”, de passares dois dias seguidos sem dormir pelo meio?
N.H. -
Não, desta vez tive um processo mais longo em gravar riffs e criar estruturas em casa, a fazer demos antes de ir para estúdio. Ainda foi um processo longo, tive algumas vezes ajuda do Angel-0 e o J a trabalhar nas músicas. Mas mesmo assim fui para estúdio com imenso trabalho a ser feito, mais guitarras, todas as linhas de baixo, alguns leads, toda a percussão e claro as vocais. Tive 15 dias em estúdio e mesmo assim sai de lá sem ter o album acabado, não conseguimos finalizar a mistura a tempo. Portanto tudo demorou mais tempo do que o desejado.

P.M. – Foi a Candlelight Records a dar o primeiro passo para te oferecer um contracto ou foste tu a procura-los?
N.H. -
Tínhamos algumas labels que tinham dado um passo em querer assinar Corpus Christii, mas no final contactamos um manager que a vida dele é mesmo essa e ele falou com as labels e tentou arranjar negócios melhores. Pois até o primeiro contracto da Candlelight não era muito satisfatório. Não sei se faria o mesmo nos dias que correm, mas uma pessoa está sempre a aprender.

P.M. – E quanto à reacção por parte da editora, também estão satisfeitos com o trabalho final?
N.H. - Não sei pois eles não comentam, bastante triste por parte deles, mas ao menos tenho toda a liberdade possível para fazer o que quero. Para eles é tudo negócio, coisa que me irrita profundamente mas não há nada que possa fazer agora. Afinal de contas o que interessa são as bandas e a música, não as editoras.

P.M. – Será “Luciferian Frequencies” o inicio de uma nova trilogia?
N.H. -
De forma alguma, não me vejo a fazer outra trilogia, mas nunca se sabe pois a trilogia que fiz não foi pensada. Aconteceu simplesmente. Tento não pensar muito nessas coisas, foco sim num álbum e o que vou fazer com ele, dar o meu todo e além disso se possível.

P.M. – No que toca à maneira foi produzido, achas que este novo álbum também abre um novo capítulo na história dos Corpus Christii?
N. H. -
Acho a produção é semelhante ao que fizemos com o Daniel Cardoso em Braga, a diferença sim que fui com muito mais material e estivemos em Bruxelas numa cave a gravar. Normalmente sei o que quero e seja onde for que esteja a gravar, faço o que quero, não deixo os produtores meterem muito as suas mãos. A música é minha, é a minha vida e nenhum produtor me vai tirar isso. Mas ideias novas são sempre bem vindas, agora eu aceitar ou não é outra coisa.

P.M. – O vinil é um formato em que vais sempre apostar?
N. H. -
Pois claro, não vejo futuro no formato digital, pelo menos não em CD.
O regresso às origens será o futuro, ter algo material que se pode tocar, apreciar, ler, coleccionar. Tanto vinil como cassetes. A nova geração está finalmente a descobrir os formatos analógicos e acho que possam vir a apreciar tanto como nós os old school apreciam. Não vejo identidade nenhuma em simplesmente sacar música e ouvir em colunas merdosas de PC. Tanto que no final acaba sempre por ser esquecido num ficheiro qualquer e acho isso realmente desinteressante.

P.M. - A inclusão de um DVD é sempre uma ajuda para complementar a discografia de uma banda. É uma ideia que já te passou pela cabeça?
N.H. -
Não. Já, me falaram nisso inúmeras vezes, mas maior parte das vezes seria filmagens de concertos, mas para se ver um concerto vais ao concerto, sentes tudo de uma forma completamente diferente e sim marcante. Estamos sim a pensar fazer outro videoclip, mas para isso tens o Youtube ou uma merda qualquer parecida.

P.M. – A digressão com os Inquisition, Revenge e The Stone é a maior da tua carreira?
N.H. -
Não, pois serão 16 datas e já fizemos uma digressão de 19 datas se não estou em erro. Mas verdade que estou com receio pois tem sido alguns anos sem uma longa tour, uma coisa são fazer 5 datas seguidas, outra são 16. É muito duro fazer uma tour com o nosso estilo de vida, isto sendo com tanta decadência e depois concertos tão intensos. Dou o litro em cada concerto, fico mesmo estafado ao ponto de não conseguir falar depois de um gig, agora imagina isso durante 3 semanas seguidas. Poucas as bandas em Portugal que sabem o que isso é, estar na estrada, beber todos os dias e tanto mais e depois fazer o mesmo no dia seguinte, isto com umas poucas horas de dormida e imensos KM´s pelo meio. Mas é sempre uma aventura e adoramos, conhecemos sempre pessoas novas, damos concertos memoráveis e passamos por experiências que nos ficam marcadas na nossa alma. Se fosse escrever um livro sobre as aventuras na estrada seria no mínimo um livro bem interessante de se ler.

P.M. – A formação em palco continua a ser a mesma?
N.H. -
Sim, não há razões de mudar agora, temos uma boa química e acho que todos estão dedicados. Pode haver alguns que possam ter menos experiência na estrada ou mesmo no Black Metal mas somos todos amigos e sabemos lidar uns com os outros. Coisa fulcral numa banda para poder andar para a frente. Mas com tantos azares com line-ups, que estou certo que um dia destes alguém vai ter de sair ou algo assim, ser um membro em Corpus Christii não é tarefa fácil.

P.M. – Mudando agora um pouco de assunto, para além de Corpus Christii existe ainda um outro projecto teu chamado Coldness onde, de igual modo e segundo parece, também tocas todos os instrumentos e cantas. Podes nos falar um pouco dele?
N.H. -
É um projecto que tenho parado há uns anos, gravei uns novos temas mas ainda não finalizei o trabalho. Tenho de ter um “mind set” especifico para gravar Coldness e não tem acontecido ou não tenho estado em situações onde possa gravar ou tenha o meu material. Mas há de sair algo novo sem dúvida, o que posso referir é que é tudo improvisado como todos os lançamentos anteriores, crú e feio, mesmo crú e mesmo feio. De momento tenho sim estado a acabar a nossa gravação de Morte Incandescente, iremos ter um novo vinil 10´´ no final do ano pela nossa editora.

P.M. – Para finalizarmos, podias deixar uma mensagem para todos os leitores da Pedra de Metal?
N.H. -
Entreguem a vossa alma à Luz.

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