Pedra de Metal

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ENTREVISTA - Factory of Dreams

O duo entre o multi-instrumentista português Hugo Flores e a vocalista sueca Jessica Lehto que se dá pelo nome de Factory Of Dreams, é um projecto dentro dos parâmetros do Gothic e do Prog-metal. Já com dois trabalhos lançados e com um terceiro álbum na mira, provam-nos de que a distância não é um obstáculo. Hugo Flores, por entre as perguntas e respostas, convenceu-nos de que é uma pessoa bastante satisfeita com os resultados obtidos, com a ambição de se manter, com os Factory of Dreams, na proa da vanguarda.

Pedra de Metal - Que encruzilhada de caminhos percorreram, vocês dois, até se encontrarem para, juntos, iniciarem este projecto?
Hugo - Nem imaginas, foi épico. A Jessica fazia parte de um gang, os Octoplasm, que se meteu em sarilhos com polvos (moluscos marinhos da classe da Cephalopoda e da ordem da Octopoda). Como eu não curto nada polvos (os tentáculos deixam-me muito confuso), fui ao mar para desancar neles e tal, e depois reparei que a Jessica também lá estava a desancar nos bichos. Ora, como tínhamos interesses semelhantes, nomeadamente no ‘desancanso’ de polvos e outros moluscos marinhos da classe da Cephalopoda e da ordem da Octopoda, decidimos unir esforços para desancar nos tipos através da música. Agora um pouco mais a sério, e desde já peço desculpa por esta entrada fulgurante e abismal, a Jessica já produzia música com o seu projecto ‘Once There Was’. Eu ouvi a voz da Jessica que me impressionou bastante. Achei uma voz quente e original, com um timbre diferente, e com uma amplitude enorme. Perguntei-lhe se queria testar a sua voz numa faixa de um novo projecto que estava delinear, chamado Factory of Dreams. Ela enviou-me essa demo, gostei e começamos a trabalhar nas restantes faixas para o álbum Poles. É ainda hoje um álbum que adoro. Está muito coeso e directo no estilo a que se propõe. Como correu muito bem e de facto a simbiose entre voz e música era óptima, continuamos a produzir e a promover a banda. Entretanto fizemos as pazes com os polvos e defendo-os com unhas e tentác...dentes.

PDM – A experiência que têm como músicos sempre girou em torno deste universo ou Factory of Dreams foi uma razão para fazerem algo de diferente na vossa carreira?
Hugo - Os meus temas giram (em círculos) quase sempre à volta da ficção científica, o mistério e mundos bizarros. No meu caso o género musical também é quase sempre em torno do metal com uma utilização de sintetizadores muito vincada. Chamo a Factory of Dreams um Metal atmosférico ou então um Synth Metal, para fazer referência à onda Synth rock dos anos 80…mas Factory não é rock, é metal. As guitarras são intensas, edgy, o som potente.
Eu tenho vários projectos precisamente para poder brincar com diferentes universos e géneros musicais, portanto Factory of Dreams também serviu para explorar outros estilos. No caso da Jessica, o goth e o metal sinfónico são predominantes na vida dela e no seu projecto musical pessoal, bem como uma colecção interminável dos 'My Little Poney'. Tem tudo a ver,Poneis e Goth...
O cruzamento de estilos foi muito natural e não consigo imaginar melhor escolha para o projecto do que ela. Para mim está entre as melhores vocalistas do Mundo, não só porque o registo dela é extenso e lindo, como consegue cantar diversos géneros, mas também porque sabe criar melodias e sabe gravar e tudo mais. É fantástica.

PDM – É de realçar que, ao observar o vosso myspace, a imagem da banda é, essencialmente, focada nos dois. E os restantes instrumentos, são tocados em estúdio por ti Hugo? Se convidas outros músicos, eles são rotativos ou mantêm-se a trabalhar convosco?
Hugo - Exacto, myspace e não só, atenção, há mais sites e cenas. Sabes que, é raro convidar mais músicos, e por vezes convido mas dão de frosques (estou na brinca claro) mas a verdade é que tal aconteceu no nosso 2º álbum. São rotativos (à roda), apesar de eu manter um grupo de amigos que convido quase sempre. Ou seja, tenho esses músicos mas estou aberto a outros talentos.
A banda sou eu e a Jessica portanto faz todo o sentido a imagem ser totalmente focada em nós. Sim, sou eu que componho, gravo, misturo e toco todos os instrumentos, pelo menos neste novo álbum, a sair, Melotronical. A Jessica grava e compõe as partes vocais dela. Outros músicos gravam ou nos estúdios pessoais deles ou então vão a um outro estúdio. Tal aconteceu no nosso segundo cd ‘A Strange Utopia’. A masterização deixo a cargo de um outro engenheiro de som, que possa avaliar melhor o género de master e tratamento a aplicar ao som.


PDM – Os Factory of Dreams são um projecto mais de estúdio ou também actuam ao vivo?
Hugo - De estúdio. O nosso enfoque é na produção de música o mais original possível dentro do género, bem como na produção de artwork e vídeos.

PDM – Com a Jessica na Suécia, como fazem para ensaiar os temas estando vocês longe um do outro?
Hugo - De uma forma muito simples, eu envio-lhe as músicas e letras, posso inclusive dizer-lhe qual o sentido que gostaria de ouvir nas vocals, mas na realidade ela é totalmente independente e faz as melodias que bem entende. Por isso eu digo que eu sou responsável pela música e a Jessica pela voz. Portanto, não ensaiamos no sentido normal do termo, cada um desenvolve o seu trabalho de acordo com a sua perspectiva. Imagina dois departamentos a trabalhar num mesmo projecto, e depois há um trabalho de integração! E o fantástico nisto é que funciona lindamente.

PDM – Até encontrarem a editora desejada, neste caso a Progmusic Records onde lançaram o “Poles” e o “A Strange Utopia”, foi um longo precurso?
Hugo - A Progmusic é uma label com muita mas mesmo muita pouca visibilidade, aliás desconheço que exista! Mas Progrock Records na realidade, essa sim. Foi facílimo, falei com o responsável pela editora e disse-lhe que tinha este novo projecto e se ele queria editar pela Progrock. Disse que sim e lá foi. Mas atenção, eu já era um músico da Progrock antes de Factory, devido ao meu Project Creation. Assim facilitou a coisa.

PDM – Já que toquei nos nomes dos vossos dois trabalhos, falem-nos deles. Gostaríamos que nos revelassem mais sobre a sua grande riqueza.
Hugo - O primeiro álbum, Poles, é uma visita a um mundo fantástico onde existe um fábrica geradora de sonhos. Existem dois pólos, as pessoas vivem no pólo negativo, muito deprimidas e observam de longe uma passagem para o outro lado, o positivo. Como vivem sem sonhos próprios e sem esperança, aceitam tudo o que lhes é impingido... Na realidade trata-se de uma visão sobre um mundo onde os sonhos são como que implantados nas mentes das pessoas e estas vivem sobre a sua influência. A personagem que nós seguimos no álbum acaba por conseguir encontrar a passagem para o outro lado e vislumbrar o pólo positivo. É um álbum cheio de ideias, mas não damos uma explicação para essas ideias, apenas pretendemos fazer pensar. Nem tudo pode fazer sentido ou então pode fazer todo o sentido do mundo, depende de quem ouve e lê as letras. A Strange Utopia é um album mais ambicioso do que Poles. Reunimos mais músicos, aborda diversos estilos musicais é épico. O tema consiste numa viagem interior a um mundo utópico, pessoal, complexo onde existe uma desmultiplicação de visões e de personagens. Pode ser também simplesmente uma viagem através de um universo cheio de Mudos bizarros e fantásticos, como por exemplo na Música Sonic Sensations na qual esse Mundo é criado e gerido pelos sons e pela música. Ou mesmo o The Weight of the World, em que o mal que os humanos causam ao mundo é proporcional ao peso (literalmente) de cada pessoa. Se fizermos muito mal ao planeta, acabamos pesados e atirados ao chão…morremos. É o julgamento perfeito, feito pelo planeta Terra o qual não é nossa propriedade, somos apenas uns péssimos inquilinos;temporários;reles.


PDM – Hugo, sentes que estão a ter um grande apoio por parte do publico português, apesar de sempre ter existido uma maior aderência às bandas originarias dos países nórdicos?
Hugo - Quem conhece Factory, gosta e tenho sentido apoio de um nicho do publico Português. O problema é mesmo a divulgação que tem de ser maior, já para não falar no facto das pessoas consumirem aquilo que lhes é oferecido pelas rádios mais conhecidas e pela TV…e como todos sabemos, o que reina nas rádios são as playlists com muita treta impingida pelas editoras gigantes.. É o problema do costume não é?

PDM – Em que outros projectos, musicais e não musicais, andam metidos?
Hugo -
Eu já tenho projectos que baste (risos), mas de vez em quando gravo guitarra ou voz para outros projectos de amigos músicos meus. A Jessica também canta no projecto do Beto Vasquez – Infinity - e no seu projecto Once There Was. Para além disso ela faz parte da equipa dos Nightwish na gestão do site Sueco da banda.

PDM – Para terminar gostaria, como hábito, que deixassem também uma mensagem para os nossos amigos leitores da Pedra de Metal, que não se cansam de marchar ao nosso lado.
Hugo - O nosso novo single já está cá fora e podem ouvi-lo em http://melotronical.com
Uma boa recompensa é o facto de Factory estar em primeiro lugar (à data da entrevista) no grande Reverbnation, no Metal Nacional!
http://www.reverbnation.com/factoryofdreams
Melotronical será o novo álbum e deve sair lá para o inicio do próximo ano, se tudo correr bem.

Um abraço a todos, comprem os álbuns e muito obrigado ao Pedra de Metal pela entrevista!

http://www.myspace.com/projectcreation
http://www.youtube.com/projectcreation
http://www.facebook.com/factoryofdreams

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