Pedra de Metal
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
ENTREVISTA - In Peccatum
Os In Peccatum praticam um Metal pesado mas profundo, que reflecte influências de Doom e Goth Metal mas não só. O Pedra de Metal teve a oportunidade de falar com António Neves, um dos membros originais da banda açoriana. Os temas foram a história da banda, o EP "MDLXIII" e o novo primeiro álbum de longa duração em que a banda trabalha actualmente.
PdM - Não começaram a banda com o nome "In Peccatum", aliás, passaram por dois nomes antes de se firmarem nesse. Qual a razão desta mudança? Evolução natural da banda ou conflitos legais (especificamente com o Ihsahn dos Emperor e o seu projecto Peccatum)?
Neves - Sim, efectivamente quando começamos com o projecto, o primeiro nome que escolhemos foi Hades, em relação ao deus grego dos infernos e dos mortos. Este nome, contudo, nunca saiu da sala de ensaios, uma vez que existia também outra banda com a mesma designação. Logo de seguida adoptamos o nome de Peccatum e chegamos inclusive a lançar a nossa 1ª demo tape sob esta designação. Praticamente na mesma altura, 1998, tomamos conhecimento do projecto Peccatum do pessoal dos Emperor e então, por razões óbvias e para evitar confusões, acrescentamos o In e passamos a ser conhecidos por In Peccatum, mantendo assim uma relação com o nosso primeiro nome, mas garantido a diferenciação.
PdM - Este segundo EP é conceptual e lida com um tema muito próprio dos Açores, como aliás já havia sido o caso com o primeiro. Este resultado obtém-se naturalmente ou é o objectivo da banda quando começa a escrever?
Neves - É um pouco dos dois. Surge naturalmente e a partir daí, acaba por influenciar a escrita da música e das letras.
PdM - E poderemos esperar o mesmo do longo-duração que agora preparam (um trabalho conceptual, focado na cultura açoriana)?
Neves - Isto para já é algo que ainda não sabemos ao certo. Temos a parte musical praticamente pronta e quando passarmos à escrita das letras aí veremos que rumo tomar.
PdM - O vosso press release refere que vocês se inserem na segunda vaga de Heavy Metal açoriano. Gostariam de contar a história deste movimento regional como participantes activos do mesmo?
Neves - O movimento metaleiro nos Açores começou a crescer bastante no final dos anos 80 e inícios dos anos 90, sobretudo impulsionados pelos Morbid Death, sendo que ainda anteriormente a eles existiram outras bandas hard n’ heavy por cá. Mas foram eles sobretudo que trilharam o caminho para as outras bandas que surgiram e para aquelas que presentemente vão surgindo. Nesta primeira fase, além dos Morbid Death, podemos incluir as bandas Black Mass, Gnosticism, Noxious, StormWind, Obscenus, Carnification, Luciferian Dementia, Necropsia, Classic Rage e Prophecy of Death. Destas todas, hoje em dia ainda continuam em actividade apenas os Carnification, que regressaram após um longo hiato. Para além destes, também os Prophecy Of Death reuniram-se e, em apenas duas aparições deram um ar da sua graça num regresso que se espera não apenas esporádico. Na segunda vaga, para além dos In Peccatum, surgiram as bandas Dark Emotions, God´s Sin, Hiffen, Kaos e Sanctimoniously. Deste lote, além de nós, só subsistem os Hiffen. Finda a década de 90, surgiram muitas outras novas bandas. Umas vão resistindo e outras, infelizmente, vão morrendo à mesma velocidade que aparecem.
Presentemente temos um underground regional bem activo e com boas e talentosas bandas.
PdM - Quem são as vossas grandes influências, quer a nível nacional ou internacional?
Neves - Nós somos influenciados por uma variedade de bandas e estilos, que incluem bandas como Iron Maiden, Type O Negative, My Dying Bride, Anathema, Paradise Lost, Pink Floyd, etc… e por estranho que possa parecer, música erudita no geral. No início da nossa carreira, e nacionalmente falando, os Moonspell foram uma grande influência.
PdM - Ao misturarem o inglês com o português sentem que trilham um caminho já desbravado por bandas como os Moonspell, ou reconhecem no que fazem algo de único e pessoal?
Neves - Realmente único não é, pois há várias bandas nacionais, que fazem uso de ambas as línguas, mas é algo que é natural, visto que o Inglês é a língua universal e o Português a nossa língua, daí não ser de estranhar a fusão dos dois idiomas. Aliás, quando formamos a banda a ideia era cantar exclusivamente em português, mas cedo abandonamos a ideia, visto que metal em inglês acaba inevitavelmente por soar de forma mais natural. Contudo agrada-nos imenso termos temas em português e é algo que irá continuar a fazer parte dos In Peccatum. Curioso é também nas críticas que vamos recebendo do estrangeiro, relativamente ao “MDLXIII”, vermos mencionado diversas vezes que o tema favorito dos “reviewers” é o “Difusas Sombras”, cantado unicamente na nossa língua.
PdM - A vossa formação parece ter finalmente atingido a maturidade e estabilidade, é este o caso?
Neves - É verdade. Conseguimos finalmente ao fim de vários anos de actividade ter um line up estável, uma vez que após a saída do nosso teclista inicial, andamos alguns anos a contar com músicos convidados para essa função. A entrada do Spell veio trazer a estabilidade pretendida nesse aspecto. Depois a passagem do Almeida da bateria para a guitarra foi também algo natural e desde sempre ambicionado. A função de baterista até então por ele exercida foi pois uma necessidade e deveu-se inteiramente ao facto de não termos ninguém que pudesse ocupar essa posição. Tratou-se de um recurso que durou até 2007, ano em que entra para a banda o baterista João Oliveira.
PdM - Existem planos para trazer os In Peccatum ao continente?
Neves - Existem e tal esteve bem perto de acontecer este ano. Tínhamos já contactos com duas bandas continentais e uma mini digressão por 2 ou 3 locais planeada para o primeiro trimestre deste ano, mas infelizmente acabou por não acontecer. Continua a ser um importante ponto e não está de forma alguma esquecido. Tem sido pois um objectivo até agora difícil de concretizar, mas - e embora não referindo datas em concreto - este é sem dúvida um projecto para levar avante.
Para breve fica a crítica ao EP "MDLXIII" dos In Peccatum, um trabalho conceptual lançado em 2009 que lida com a erupção vulcânica que ocorreu na ilha de São Miguel, no ano de 1563.
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