Pedra de Metal

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ENTREVISTA - Acceptus Noctifer


Ao pegar nos seus gostos cinematográficos e junta-los num álbum de black-metal, fez de “Amores de Ofício” o reflexo de si próprio. O cineasta João César Monteiro, é um dos “oxi-génios” do seu respirar e uma das grandes musas para este álbum. Tarannis, entidade com quem contactamos e que nos falou sobre a banda, é a alma doente e o coração que bombeia nas veias fúnebres dos Acceptus Noctifer.

Pedra de Metal – Durante seis anos, e tendo em conta que a banda foi fundada em 2002 e lançou uma rehearsal tape, os trabalhos que lançaste foram compostos por demos e splits, em 2009 surge o primeiro longa-duração “Amores de Ofício”. Uma vez que é um formato diferente, abriu as portas para uma nova era dos Acceptus Noctifer?
Tarannis M. -
Todos os lançamentos que fiz com Acceptus Noctifer, marcaram as suas “eras”, tudo depende da inspiração do momento. O que se faz num longa duração, pode perfeitamente ser lançado em formato demo, afinal de contas, o produto final e satisfação pessoal é que contam. As portas estão sempre abertas quando a inspiração e a dedicação nos acompanham.

P.M. – Os temas “Veneno Que Me Bebe” e “Canteiro de Ossos” têm ambos, no seu início, excertos dos filmes “Recordações da Casa Amarela” e de “A Comédia de Deus”. A obra de João César Monteiro faz parte do teu universo pessoal?
Tarannis M. -
“Amores de Ofício” é um álbum extremamente pessoal, músicas como, “Veneno que me bebe” e “Canteiro de ossos”, as quais considero irmãs, daí as introduções, são dois temas chave no seio de toda agonia do álbum. Uma refere-se a um presente passado, e outra a um futuro presente, um devaneio comum aos filmes Recordações da Casa Amarela ou Comédia de Deus, loucuras, clichés e nostalgias típicas do nosso povo. O universo de João César Monteiro sempre me fascinou desde muito jovem, a sua crítica realista e poética, que todos disfarçam de loucura. Tive a sorte de conhecer esse Senhor pessoalmente há uns anos, que na dita situação me apelidou de “o rapazinho doente”.

P.M. – “Amores de Oficio” é um álbum que traduz, à letra, a paixão pelo tema da morte ou incluíste outros contextos?
Tarannis M. -
Não é um álbum que profira apenas o tema da morte! Trata-se de uma “masturbação” ao ego e de como gosto de ser EU, ou NÃO! Como o amor é um vício de algibeira, um culto a uma loucura consentida. Temas de morte posso expor, “Estertor Mortal”, e “Sonhos de Cadáver”. Também murmuro a carne jovem e dócil em Funérea Madrugada, e não esquecer o duplo sentido de “Bacantes de Nobres Vícios”.

P.M. – Que tipo de cuidados tiveste na produção deste trabalho, foi diferente uma vez que se trata de um álbum? Foi concebido para ter o mesmo produto final que nos outros lançamentos anteriores?
Tarannis M. - Cada lançamento é distinto. Depende do tipo da cadência do som, se é mais ligeiro, ou mais puxado. A minha principal apreensão é o ambiente gerado pela produção, nem que seja o mais raw possível, mas se me soar perfeito, é o ponto final, e está pronto a ser lançado, seja para um álbum ou para uma demo.

P.M. – Desde 2003 com a saída de Arawn, ficaste como o único elemento na banda, no que toca às composições e ao trabalho de estúdio. Porquê esta opção?
Tarannis M. -
Cheguei a ter tristes tentativas de organizar outros line-ups, que não fossem somente para tocar ao vivo, que vieram a revelar-se desastrosos. Sou insistente e impertinente, coisa que certos membros não seguiam. Black metal, como eu conheço, será sempre o extremo de qualquer expressão de sentimentos, embora dos mais gélidos, ou doentes que possam ser, e que muitos consideram ser uma brincadeira, mas para mim nunca serão, e acho difícil dividir uma banda com alguém que não tem a mesma crença.

P.M. – Só compões para Acceptus Noctifer e InThyFlesh ou já tens recebido pedidos de colaboração da parte de outras bandas?
Tarannis M. -
Sim, e também em projectos fora do género, inclusive bandas sonoras para curtas-metragens. Também tenho o projecto ÊXUL que está para sair uma demo, e já não havia qualquer lançamento desde 2003.

P.M. – De que forma olhas a sociedade actual?
Tarannis M. -
Como sempre olhei, se colocassem uma bomba no Vaticano e no estado de Israel talvez as coisas mudassem. Talvez…quem sabe.

P.M. – Pedia-te agora que deixasses uma mensagem para os leitores da Pedra de Metal.
Embalo-me em gritos sublimes
Semelhantes ao de um agudo estertor
Enquanto nos meus sonhos de cadáver
O frio mortal da alma me alimenta…
Confidentemente…
De lágrimas e sangue adolescente
Vendando-lhes os olhos, enquanto…lhes rasgo as carnes palpitantes!

Funérea Madrugada

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