Pedra de Metal

domingo, 29 de maio de 2011

Entrevista - PhaZer



A equipa do Pedra de Metal falou com os lisboetas PhaZer no rescaldo do lançamento do seu primeiro álbum "Kismet". O bem disposto vocalista Paulo Miranda "abriu-nos a porta" para as expectativas e as angústias da sua banda...bem como para algumas revelações.


Pedra de Metal - Para quem não vos conhece, poderiam dizer quando fundaram a banda e fazerem um resumo da vossa história até aos dias de hoje?

Paulo Miranda - O nosso início de banda foi em Junho de 2004. Desde aí compusemos algumas músicas e em 2005 fizemos uma mini tour por Lisboa, ao qual chamamos “Beta-Tour”. Demos este nome, como brincadeira de associação à gíria informática, pois serviu de facto para testar ao vivo em versão “beta” as nossas primeiras músicas para alguma audiência de Lisboa. A experiência correu bem, e desde aí, ganhamos então a motivação e confiança para apostarmos na divulgação da nossa música, gravamos o nosso primeiro EP Revelations em 2006, estivemos numa longa tourné (Revelations Tour) a promove-lo durante dois anos, e em 2009 voltamos ao estúdio para compor e gravar um novo disco, desta feita o nosso primeiro álbum “Kismet” que saiu em Junho passado.

PdM - Noto algumas influências de bandas como Guns `n Roses e Velvet Revolver. A nível vocal identifico, por vezes, influências de Mike Patton. Confirmam? Que bandas é que vos influenciaram mais? Poder-se-ia dizer que os Phazer praticam um som hard rock com uma vertente de crossover?

Paulo Miranda - Confesso alguma surpresa pela comparação com Guns ‘n Roses, embora seja uma banda que cresceu connosco e a qual admiramos muito, não sei se temos uma influência directa de Guns no nosso som, mas poderá eventualmente existir alguma influência indirecta e não intencional, mas confirmo a influência de Mike Patton (Faith No More) na minha contribuição na banda, sempre considerei o Mike como dos melhores na utilização do seu instrumento quer tecnicamente como criativamente. É de facto uma referencia importante para mim, da mesma forma que James Hetfield (Metallica) e Phil Anselmo (Pantera) o são. Em relação à última questão, reconhecemos a vertente de crossover, não tentamos criar nada de novo, apenas juntar algumas coisas que gostamos muito e tocamos à nossa maneira, e existe de facto um gozo tremendo em misturar estilos e linguagens diferentes nas nossas músicas, em vez de seguirmos apenas uma linha/caminho musical até ao final dos nossos dias, isso seria o nosso maior pesadelo, ficarmos presos numa única linguagem musical, e sem menosprezo por quem o faz, pois existem inúmeras bandas que gostamos que utilizem esta forma de composição.
É estranho tentar encaixar-nos nas supostas designações de géneros, porque normalmente é uma forma de nos encaixar em prateleiras onde outras bandas mais ou menos dentro do mesmo género estão, entendo e aceito o conforto da categorização, mas por vezes colocam-nos a par de outras bandas com as quais achamos que não temos muito a ver e isso traz-nos um desconforto relativo. Relativo, porque normalmente não perdemos muito tempo a pensar sobre isso. Geralmente quando me perguntam o que tocamos, dizemos simplesmente...Rock!

PdM - Porquê o nome de Phazer para nome da banda?

Paulo Miranda - Existem suas versões da génese do nome e ambas são verdadeiras. Procurávamos um nome simples, directo que fosse fácil de decorar e que não tivesse nenhum significado subliminar, apenas um significado directo de Rock Eléctrico e Poderoso, o Henrique Martins (baixista) viu um dia na rua uma mota da Yamaha modelo Phaser, e curtiu o nome, levou-nos a ideia do nome que curtimos logo de início e ao Gil Neto (guitarrista) remetia-lhe ao imaginário dos lasers da série Sci-Fi “Star Treck”, um feixe luminoso, quickly and deadly! Era esse o nome que queríamos, adaptamos o “s” para “z” e assim surgiu “PhaZer”.

PdM - Em entrevista recente afirmaram que o nome Kismet, do vosso primeiro álbum, era um termo turco designando mau agoiro, mau presságio e tragédia. Porque escolheram um nome com esta carga emocional?

Paulo Miranda - Foi o título que quanto a mim, sumariza todas as histórias que são contadas no álbum. Este disco não tem histórias felizes, tem histórias de dúvidas, raiva, libertação, revolta, mágoa, uma profunda incerteza sobre como será o nosso futuro tendo em conta o que fizemos e o que nos rodeia, a capa do disco mostra esse caminho com um coração preso por um cordel no topo como se tratasse da estrela de Belém (abstendo da carga religiosa da expressão) que está sempre agarrado a nós, é a emoção que transportamos para todo o sítio onde vamos. É um caminho a fazer, que não sabemos o que está do outro lado do monte, o lado negro da lua, ninguém sabe. É o nosso destino, que sabemos de antemão que poderá nos esperar o pior, mas temos sempre a esperança que algo de bom se vislumbre. É o que existe de comum entre todos nós, é a nossa condição humana.

PdM - Porque usaram samples da entrevista a Charles Manson na “Serious Killer”, uma recitação do Alcorão em “Kismet” e um excerto áudio de Charles Chaplin do filme “O grande ditador” de 1940 na “Rebel”?

Paulo Miranda - A entrevista do Charles, foi uma decisão obvia, pois a letra “Serious Killer” foi escrita sobre ele. E algumas das suas palavras são tão fortes, que apenas têm esse efeito tão poderoso se forem ouvidas pela sua própria voz. Foi a cereja que faltava naquela música.
A música “Kismet”, fala sobre a guerra das religiões, nomeadamente Cristianismo vs Islamismo. E após alguma investigação, encontrei uma passagem no Corão muito interessante, considerando os mediáticos acontecimentos do 11 de Setembro. “(...) Wherever you are, death will find you, even if you are in towers built up strong and high! (...)”. Utilizamos esse canto na música, porque ligava na perfeição com a letra e com o ambiente musical que tínhamos criado até então.
A passagem do Charlie Chaplin na “Rebel”, foi um profunda e sentida homenagem a ele, pois na minha opinião pessoal, foi um dos génios do cinema de todos os tempos. O porquê de incluir aquela parte na música, a letra fala de libertação, da exaltação de poderes fazer o que queres e não o que te obrigam a fazeres, e é isso que o Chaplin diz nessa passagem. “You are not machines! You are men!”, e sem o preconceito de se sobrepores a ninguém, sem reinares ou conquistares ninguém, apenas seres feliz.

PdM - Como têm sido as reacções ao vosso álbum?

Paulo Miranda - Sentimos que com este disco, ganhamos ainda mais fãs e no geral há mais gente curiosa para ficar a conhecer o que é esta banda, e a forma como tem evoluído, e ao vivo notamos mais follow-up. Temos tido também uma excelente reacção por parte dos vários quadrantes da imprensa nacional e internacional, onde inclusive têm destacado este disco como dos melhores de 2010. Isto tudo e especialmente pelo apoio que recebemos dos nossos fãs, deixa-nos obviamente bastante orgulhosos e também motivados para um próximo disco.

PdM - Quais foram as principais diferenças que notaram entre trabalhar com um produtor externo, neste caso, Fernando Matias, de fazer a própria banda a produção do álbum como aconteceu com o EP “Revelations”? Porque foi Fernando Matias o escolhido?

Paulo Miranda - Já tínhamos a referencia do talento e trabalho do Fernando à já algum tempo, inclusive o nome dele esteve em consideração para a masterização do EP “Revelations” acabando por não ter sido a opção na altura. No entanto para o nosso primeiro álbum quisemos a participação de um “produtor” que nos garantisse um bom disco, de alguém fora da banda que ouvisse as nossas músicas com sentido critico e nos ajudasse a melhora-las. E foi essa expectativa que tínhamos ao trabalhar com ele e gostamos muito do resultado final, acredito que este disco sem o Fernando, seria um disco diferente. Como já tinha dito em entrevistas anteriores, o Fernando no Kismet foi o nosso 5º Beatle, neste caso o nosso 5º PhaZer! Não foi apenas apenas o produtor do Kismet, mas tornou-se um forte amigo da banda.

PdM - Tendo assegurada a distribuição nacional do vosso álbum, conseguiram distribuição internacional?







Paulo Miranda - Apenas digital, via CB Baby, Amazon e iTunes. Através de parcerias da nossas editoras Raging Planet e Raising Legends figuramos em alguns catálogos internacionais mas existe algum trabalho a fazer nesse sentido que estamos agora a começar a fazer. Talvez possa haver mais novidades para breve.

PdM - Por quantos álbuns assinaram com a raging planet/raising legends?

Paulo Miranda - Neste momento o acordo que temos foi apenas para este disco, no entanto tudo está em aberto para os próximos discos. Ainda é cedo para falarmos sobre isso, neste momento estamos focados em promover este disco e tentar leva-lo para lá fora também.

PdM - A nível de concertos agendados para fora do país existem boas perspectivas para estes se efectuarem? Como tem corrido a vossa digressão nacional?

Paulo Miranda - Nacionalmente, têm corrido muito bem tendo em conta a actual conjuntura actual. A situação actual é muito diferente do tempo da Revelations Tour. Mas temos dados bons concertos e conseguido ir a sítios onde nunca tínhamos ido com o Revelations, fomos recentemente ao Porto, Hard Club e algumas FNACs de lá, o que foi uma experiência brutal. Sabíamos que o público do Porto, era excelente, mas ainda assim conseguiram superar as nossas expectativas. Queremos lá voltar em breve. Outra zona que nunca tínhamos ido e estamos a fechar algumas datas em Julho, é o Algarve. Daremos mais informação em breve sobre as próximos concertos.
A nível internacional, é algo que também queremos fazer, mas estamos ainda a começar agora esse trabalho, esperamos partilhar novidades em breve.

PdM - Que é que pensam que falta à cena portuguesa para se desenvolver mais? Qual a principal dificuldade que têm sentido na vossa carreira?

Paulo Miranda - De uma forma geral, não só a em termos nacionais, temos sentido a profunda alteração da industria musical que tem ocorrido. Pelo facto que sermos malta “old school”, temos crescido e criado as nossas expectativas da nossa carreira sob os velhos paradigmas, o que é normal, são as referências com que aprendemos, obviamente temos estado atentos e sempre com alta capacidade de adaptação ao novo modelo da industria musical, nomeadamente, na maior autonomia das bandas faces às editoras, nos novos meios de distribuição digital do nosso trabalho e estamos dispostos a fazer parte desta revolução. Mas para uma banda que se pretende lançar e ainda mais num país de reduzida expressão no mercado global como Portugal, a tarefa é extremamente difícil. A maior dificuldade que sentimos é que aparecemos na pior altura, na altura da crise da industria musical e em termos de evolução da nossa carreira, sentimos algum estrangulamento por isso mesmo. O que falta à cena Portuguesa? Acho que precisa de exportar mais música para fora, sem ser Fado ou World Music. Necessitamos de exportar géneros que habitualmente não exportamos, como Pop, Rock e Metal (Moonspell, é uma excepção de grande sucesso e orgulho nacional, mas que não serve como exemplo de tendência). Se conseguirmos exportar mais música desse género, talvez tenhamos mais reconhecimento mundial e por conseguinte obtenhamos uma melhor estrutura para outras bandas poderem trabalhar melhor e potenciarem o seu trabalho alem fronteiras.

PdM - Qual foi o momento mais alto, o que vos encorajou mais e o momento mais baixo, o que vos desmotivou mais na vossa carreira, até agora?

Paulo Miranda - Creio que o melhor momento que obtivemos é o reconhecimento e feedback dos nossos discos. O nosso EP Revelations ter sido considerado um dos melhores discos de 2006 e os PhaZer a banda revelação Rock desse ano, e logo depois em 2010 e durante este ano de 2011, o nosso primeiro álbum “Kismet” ser igualmente bem recebido e considerado por muita gente como dos melhores discos de 2010. Maior orgulho não poderia existir para nós, vermos o resultado do nosso trabalho com qualidade reconhecida.
O que mais nos desmotiva na nossa carreira, é de facto não sentirmos materializado esse reconhecimento que nos permita sustentar a continuidade desse trabalho, em coisas como gravação de vídeo clips, produção de melhores espectáculos, tem sido muito difícil e sempre com grande esforço pessoal de todos os elementos da banda tentarmos dar um próximo passo de evolução da banda, quando esperaríamos que estes passos fossem sustentados pelo resultado dos nossos discos. Em suma, sentimos que existe um grande desfasamento entre o bom resultado de um disco e o impacto real que isso tem nas actividades de uma banda.

PdM - Que conselhos dariam às novas bandas que estão a começar?

Paulo Miranda - Principalmente, que procurem a “música” em si próprios e não na imagem daqueles que idolatram. OK, podem aprender com os vossos ídolos, é muito importante aprender. Mas com o objectivo de criarem a vossa própria linguagem, e de não serem apenas espectros dos vossos ídolos ou histórias de sucesso. Posso contar uma história pessoal - Quando tinha 17 anos, o meu ídolo era o Jim Morrison, e a dada altura, pensei que, se eu quisesse fazer uma banda Rock e quem sabe um dia ser ídolo de alguém, eu nunca poderia ter ídolos, porque se os tivesse, seria sempre um espectro dele e nunca eu próprio. E no Rock, precisas de ser tu próprio, tens que criar o teu “personagem” que deve ser único e verdadeiro, porque se não for verdadeiro, o pessoal vai topar isso à légua. Uns vão gostar, outros nem por isso, é a vida, mas o que é importante que te sintas bem com isso, tudo o resto, vem com muito trabalho e uma pequena dose de loucura...também faz maravilhas! Eheh

PdM - Quais são as perspectivas para este ano e para o futuro dos Phazer? Já têm em vista a gravação de um 2º álbum?

Paulo Miranda - Este ano, é fazer mais concertos e tentar exportar o nosso álbum lá para fora. Em relação a um 2º álbum, ainda não planeamos quando entraremos em estúdio, estamos já a escrever novas músicas e para já estamos apenas concentrados nisso.

PdM - Muito obrigado pela disponibilidade e felicidades para a vossa carreira!

Paulo Miranda - Obrigado nós por nos receberem no vosso espaço. Quero dar um abraço especial a todos os vossos leitores e à equipa do Pedra de Metal. Felicidades também para vocês. Obrigado e até à próxima.




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