Pedra de Metal

terça-feira, 3 de agosto de 2010

ENTREVISTA - Grog


Dezoito anos depois, os Grog continuam a ser um grande exemplo de resistência e nada, até agora, os fez parar. O carismático e nosso entrevistado vocalista Pedro Pedra, juntamente com os restantes elementos da banda, estão com os olhos postos no futuro e com vontade de nos continuar a dar mais concertos e grandes álbuns.

Pedra De Metal – Qual a origem dos Grog e o porquê de terem optado por esta sonoridade?
Pedro -
Os Grog nasceram em 1991, Setembro, com a formação original composta pelo Marco (baixo), o Johnny (bateria), o João (guitarra) e eu (Pedra) na voz. Quando decidimos criar a banda a ideia era o de ser a banda mais extrema ao nível musical em Portugal, derivado às influências musicais que tínhamos como referência, nomeadamente bandas de grindcore e death metal da década de 80 e início de 90.
Hoje, 2010, os Grog são, no baixo, o Alex, na guitarra, o Ivo, na voz, eu (Pedra) e, na bateria, o Rolando e ainda mantemos esse objectivo, facto que nos motiva para a música que criamos.

PDM – Pedro, nos finais da década de 90 numa reportagem chamada “Sons do Extremo” que passou na televisão, disseste uma frase que gostei bastante, que foi a seguinte: “Uma pessoa para se considerar equilibrada tem que conhecer tanto um extremo como o outro”. É uma ideia que ainda hoje defendes e até que ponto?
Pedro -
O que eu disse nesse programa de televisão mantém-se hoje e isso é feito sem recorrer a nenhum extremo. A visão implícita nesta forma de ver o todo é, precisamente, a que mais sentido faz, para mim, dado considerar um Ser como um agente infinito. Quem é que sabe o que realmente é? De onde veio? O que é que está cá a fazer? Para onde vai? Essas questões estão longe de ser originais, mas ajudam-me a entender e analisar a realidade como um conjunto estruturado de experiências. Estas, por sua vez, determinam a condição humana de ser e estar em sociedade. Eu defendo que ninguém pode olhar para si, sem conhecer o passado, o presente e o futuro. Todos temos, nestes 3 vértices espácio-temporais vivências, onde podem morar e conviver o melhor e o pior que o Ser Humano conhece, ignorar esta abordagem é pura falta de interesse em entender o Ser Humano em si.

PDM – Nas letras que escrevem, por norma, fazem apontamentos a historias de gore, massacres, canibalismo, etc… Existe algum tópico em especial que pretendem despertar à atenção das pessoas e da sociedade em geral ao abordarem este tipo de assuntos ou é apenas um gosto unânime?
Pedro -
A temática lírica que exploramos assenta numa perspectiva específica que decidimos tratar sobre o Ser Humano, comportamentos desviantes e ritualísticos. Dentro desta dimensão temos abordado muita coisa, se bem que, ao longo do tempo, também se pretendeu, e ainda se pretende, condimentar com muito humor negro e ironia todos esses temas. A intenção não é chocar, nem muito menos provocar, seja quem for. 99,9% dos temas escritos são ficção, pelo que este exercício criativo tem como missão chamar a atenção de todos para o outro lado do Ser Humano, o lado sombra, até porque todos temos um. Pessoalmente, creio que cada um de nós se auto-exorciza com isso, porque de alguma forma tira uma elação destes cenários.

PDM – Existe algum filme de “gore” que vos tenha servido de inspiração para algum dos vossos trabalhos? Qual ou quais?
Pedro -
Não, concretamente, nos inspiramos em nenhum filme “gore / terror”, apesar de todos termos as nossas preferências dentro desse género, para compor um dos nossos cd’s, porém temos uma música do Macabre Requiems (1.º cd), cuja letra se baseia num conto do livro 120 dias de Sodoma, escrito pelo Marquês de Sade. A música em questão chama-se Sado Masoquist Butchery.

PDM – “Gastric Hymns Mummified In Purulency” é uma compilação dos vossos melhores temas e que também serve para comemorar os dezoito anos de existência da banda. Já há muito que ansiavam por este lançamento? O que é que podemos encontrar no conteúdo deste CD?
Pedro -
Antes de falar deste registo, tenho que falar de um outro que também saiu este ano, em Junho. O 3 way split com Roadside Burial e Pussyvibes. Este sim, é o nosso regresso oficial às edições, após 9 anos. Este cd tem 4 temas originais e 1 cover de Nuclear Assault, em termos sonoros estas músicas estão mais orientadas para o grindcore e como tal devem esperar muita rapidez e peso nelas. Foi sem dúvida com muito contentamento e euforia que voltamos a entrar em estúdio, creio mesmo que isso está patente na atmosfera em torno dos nossos temas. As bandas que completam esta edição também são excelentes e muito competentes no que fazem, pelo que aconselho todos a adquirem uma cópia deste lançamento. A edição deste cd ficou a cargo da Grindhead Records da Austrália, que tem demonstrado um óptimo trabalho.

Falando do “Gastric Hymns Mummified in Purulency”, que também saiu agora em Junho último, de facto este cd foi planeado para sair o ano passado, contudo algumas desventuras atrapalharam os planos iniciais. Este lançamento não é mais nem menos que uma prenda nossa para os nossos fãs, incluindo-nos, já que estava na altura de o fazer. Não obstante estarmos a meses de fazermos 19 anos, a data de saída deste cd coincide com um período de grande actividade da banda, não estando, por isso, desenquadrado dos nossos objectivos.

Procuramos fazer deste cd um lançamento festivo, não o vejo como uma compilação, até porque grande parte do cd é constituído por versões nunca editadas de temas, esses sim, já existentes. Para quem nos conhece, pode encontrar um pedaço resumido da nossa história incluído nestes temas, alguns deles tocados pelas formações iniciais. Para quem não nos conhece, esta é, sem dúvida, uma excelente oportunidade para experimentar novos sons. Obviamente que aconselho este cd aos amantes de brutal deathgrind porque é disso que se trata. Gostaria de dizer que foi uma autêntica aventura construir este cd porque tivemos que recuperar muito material antigo, algum dele em cassetes, pelo que deu-nos imenso gozo voltar a ouvir o nosso material inicial. O booklet do cd representa uma viagem no tempo com fotos, flyers, capas de todas as edições, reviews, bom, motivos mais que suficientes para folhear atentamente as suas páginas. A intenção de fazer um álbum de fotografias foi plenamente conseguida. Estamos muito satisfeitos com o resultado final deste cd.

A edição no mercado é partilhada por 4 editoras, a Vomit Your Shirt e a Luci Distro de Portugal, e pelas Murder Records e Sevared Records da Holanda e Estados Unidos respectivamente. Acreditamos que não só por razões de facilidade de edição, como também de distribuição que esta parceria multinacional do underground faça um bom trabalho na divulgação e promoção deste cd.

PDM - Em que prisma, a mudança de elementos na banda tem funcionado como motor garantindo o bom funcionamento e, também, as características da vossa sonoridade?
Pedro -
Durante estes anos não temos tido grandes mudanças de line-up, talvez em toda a nossa história tenhamos tido dois momentos onde isso aconteceu com algum impacto, porque acabou por afectar a parte de composição. De qualquer forma, e felizmente, sempre se encontraram pessoas capazes e com competência para darem sequência aos objectivos da banda. È óbvio que com a entrada de novos elementos, novas ideias surgem, novos estilos são integrados na nossa música, nunca esquecendo a base principal. A meu ver, temos conseguido evoluir dentro do estilo musical que representamos, onde compomos sem olhar a modas ou clichés, A actual formação é muito sólida e todos nós sabemos o que temos a fazer, há com toda a certeza brio e muito empenho pessoal de todos na criação da nossa identidade musical.


PDM – Qual o próximo passo a dar até chegar a um novo álbum de originais?
Pedro -
O próximo passo está a ser dado, neste preciso momento, uma vez que já o começamos a gravar. Esperamos ter tudo concluído para o final de Setembro e se tudo correr bem ainda este ano será editado. Estão na calha 12 temas novos e a regravação de 2 antigos, apesar de já haver nome e distribuição para o novo cd ainda não é o momento para divulga-lo. Oportunamente anunciaremos todos esses detalhes. Para já, posso avançar que este novo trabalho é o mais rápido e brutal que compusemos até hoje, o que para a banda significa que conseguimos ultrapassar mais um patamar nos objectivos que nos acompanham desde o primeiro dia de existência. Espero que, no futuro, todos aqueles que o ouvirem também estejam de acordo com esta visão.

PDM – Obrigado pela tua disponibilidade e agora gostaria que me deixasses uma mensagem para as pessoas que visitam a Pedra de Metal.
Pedro
- Desejo-vos todas as felicidades, para o vosso projecto, e agradeço-vos a oportunidade de expor e dar a conhecer a todos os interessados quem são o Grog e o que cá andamos fazer. Para todos aqueles que nos quiserem visitar podem fazê-lo no seguinte endereço, www.myspace.com/grogpt cá aguardamos os vossos comentários.

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